No universo criativo, a confiança depositada no editor é tão essencial quanto a própria inspiração. Neste artigo, convido autores, fotógrafos e artistas visuais a refletirem sobre a importância de reconhecer o papel fundamental do editor – aquele profissional que, com uma visão aguçada e sensibilidade estética, transforma ideias em obras de impacto.
O importante é que o autor, o fotógrafo ou o artista reconheça a importância do editor. Essa relação vai muito além de uma simples correção ou revisão textual; trata-se de um olhar que enxerga o potencial de uma obra e sabe como alinhá-la às diretrizes e à identidade da editora. Mesmo sem ter um conhecimento profundo sobre o assunto específico da obra, o editor possui uma visão editorial que confere à publicação sua identidade e seu apelo estético, contribuindo decisivamente para o sucesso do projeto.
A função do editor é, em essência, alinhar a visão artística do criador com a visão estratégica da editora. Esse alinhamento não é algo que acontece automaticamente ou de forma imediata. Muitas vezes, o primeiro encontro entre a ideia do autor e a proposta da editora pode revelar diferenças significativas, seja na forma do livro, na organização do conteúdo ou mesmo na condução dos textos.
Nesse processo, o editor atua como um mediador e facilitador. Ele busca identificar os pontos fortes da obra e, ao mesmo tempo, adaptar ou ajustar elementos que não se encaixam completamente na identidade editorial da editora. Por exemplo, pode ser necessário repensar o formato do livro para que ele dialogue melhor com o público-alvo, ou reorganizar os capítulos e seções para garantir uma leitura mais fluida e coerente com a proposta da publicação.
Nesse sentido, a confiança no trabalho do editor é fundamental para que a obra tenha mais relevância. Editar é, em grande parte, um processo de organização e de eliminação do desnecessário. Existe a edição de refinamento, mas essa ocorre por último. Antes disso, a edição precisa estruturar o conteúdo de maneira inteligível e coerente, garantindo que o leitor tenha uma experiência fluida e envolvente.
Para organizar conteúdo de forma eficaz, uma referência valiosa é a teoria de LATCH, criada por Richard Saul Wurman. Segundo essa teoria, existem cinco maneiras fundamentais de organizar a informação:
- Localização (Location) – Organizar o conteúdo com base em espaço ou geografia. Isso é comumente usado em atlas, guias de viagem e projetos visuais que exploram contextos específicos.
- Alfabética (Alphabet) – Ordenar elementos em sequência alfabética, ideal para glossários, dicionários e listas de referência.
- Tempo (Time) – Estruturar a narrativa ou a informação de acordo com uma linha do tempo, algo essencial para biografias, histórias e cronologias.
- Categoria (Category) – Organizar por tipo ou gênero, como se vê em classificações de livros, músicas ou coleções artísticas.
- Hierarquia (Hierarchy) – Dispor a informação de acordo com sua importância ou grau de prioridade, como acontece em artigos acadêmicos, relatórios e estruturação de conteúdo editorial.
Compreender e aplicar essas formas de organização ajuda o editor a estruturar a informação da maneira mais eficaz para o leitor, garantindo que o conteúdo seja acessível e impactante.
Outra etapa crucial na edição é a eliminação do que não agrega à narrativa. Os critérios principais para cortar conteúdo são:
- Repetição – Ideias e frases que se repetem sem necessidade devem ser removidas para manter a clareza e evitar redundâncias desnecessárias.
- Redundância – Algumas passagens podem estar reforçando o mesmo ponto de maneira excessiva. Um bom editor consegue perceber onde uma simplificação é benéfica.
- Relevância – Se uma informação não contribui para a mensagem principal da obra, talvez seja melhor descartá-la.
- Preponderância – Algumas ideias podem ser importantes, mas se não estiverem alinhadas à proposta geral do livro, correm o risco de desviar o foco do leitor.
- Essência para a narrativa – O editor deve questionar se determinado trecho é essencial para o desenvolvimento da história ou conceito. Se não for, pode ser cortado sem prejuízo para a obra.
Esse processo de organização e eliminação garante que o resultado final seja mais fluido, conciso e impactante. O trabalho do editor, portanto, não é apenas melhorar o texto, mas garantir que ele se comunique da melhor forma possível com o público. Para que isso ocorra, é essencial que o autor confie nesse processo e entenda que a edição é uma etapa transformadora, que potencializa a força da obra sem comprometer sua autenticidade.