Sergio Lucena habita, como os originários, na encruzilhada de dois mundos: o natural e o mágico; ambos se encontram nos “campos de luz” constituídos a partir das atmosferas de cores sólidas e também translúcidas que o artista laboriosamente cria. Qualidades que combinadas são, afinal, a expressão de uma realidade pictórica instaurada que é, igualmente, o resultado do integral domínio dos meios técnicos que o artista prospecta e coloca à disposição de um projeto que, sendo estético, é também profundamente ético. Lucena, no decorrer da sua trajetória, tem criado pinturas de enorme densidade poética que, por isso mesmo, dificilmente podem encontrar expressão adequada fora do espaço que elas mesmas criam. Sua obra tem solicitado o engajamento de uma semântica crítica que nos permita uma aproximação mais correta, menos comprometida com um léxico colonizado. Exemplo: se é a luz do sol nordestino brasileiro que povoa a memória do artista e assim confirma sua paleta, estamos diante de pinturas de “campos de cor” ou de “campos de luz”? Aliás, Lucena contraria os artistas europeus e acadêmicos que outrora depunham sobre a impossibilidade de domesticar a poderosa e, para eles, cegante, luz dos trópicos.